domingo, 18 de março de 2012

A construção do olhar do pesquisador

Livro: "Questões de método na construção da pesquisa em educação"
Evandro Ghedin
Maria Amélia Santoro Franco

Síntese Capítulo II - A construção do olhar do pesquisador
"...o olhar quer ver sempre mais do que aquilo que lhe é dado ver. Olhar significa pensar, e pensar é muito mais do que olhar e aceitar passivamente as coisas. Esse olhar pensante exige uma mudança de atitude diante do mundo e do modo pelo qual os fatos são configurados pela cultura. Então, olhar é interpretar e perceber para poder compreender como são as coisas e os objetivos investigados."
Neste capítulo são abordados dois momentos sobre o modo particular de ver e de pensar a produção do conhecimento na perspectiva da pesquisa ação.


1. Educar o olhar para ler o mundo em suas múltiplas representações
Educar o olhar significa aprender a pensar sistemática e metodicamente sobre as coisas vistas.
A educação do olhar cobra a percepção das múltiplas representações do mundo e da cultura socialmente construídas.
"O olhar deseja sempre mais do que o que lhe é dado a ver" (Novaes, 1997, p.9)
"...o ser humano é por natureza um ser criativo. No ato de perceber, ele tenta interpretar e, nesse interpretar, já começa a criar, não existe um momento de compreensão que não seja ao mesmo tempo criação."(Chauí, 1997, p.40).
O olhar busca muito mais que as sombras escondem por trás dos vazios luminosos do que aquilo revelado de pronto pela visão. Com base no visível, o olhar quer ver o invisível. Com base no objeto visto, quer ver o que não pode ser visto imediatamente. De passagem, poder-se-ia dizer que é esse desejo de ver o invisível, perpassado pelo questionamento e pela reflexão, que desperta o pensamento. Vê-se com os olhos, mas só se sabe o que as coisas são por meio do pensamento.
"Pensar é por a distância [...], pensar não é experimentar, mas construir conceitos" (Novaes, 1997, p.11)
O olhar há de ser crítico, e a crítica surge com a dúvida, que questiona o modo pelo qual as coisas se apresentam. Por isso, deve-se educar o olhar, pois sem esse olhar crítico, há o risco de reproduzir apenas as representações do mundo, suas ilusões, e não o mundo em sua concretude, transformado pela arte de fazê-lo humano.


2. Do olhar que vê ao pensamento que explica e compreende por meio da interpretação
O ser humano procura compreender e explicar o mundo. A compreensão é resultado de uma explicação dada às coisas humanas e não humanas. Isso indica que a explicação, antes da própria compreensão, é a tradução da realidade num significado que tenha sentido e se processe por determinada linguagem ou por signos linguísticos propiciadores de uma comunicação compreensiva do real.
Compreender significa explicar o sentido das significações atribuídas à realidade das coisas e do mundo. Seja qual for o método ou a maneira utilizada, é próprio do ser humano conferir significado à complexa realidade que o envolve e, por meio da interpretação, compreendê-la.
Todo discurso tem a pretensão de atingir a realidade e exprimir o mundo; refere-se a algo, a um mundo sobre o qual está falando. A fala do discurso é a expressividade da realidade que se pretende conhecer. O discurso produzido constitui produto de determinado contexto que fala por intermédio do pesquisador. Não só o discurso pretende atingir a realidade, como também a própria realidade atinge a pessoa pelo discurso. Isso quer dizer que a realidade toca diretamente a pessoa quando esta procura tocá-la. Essa relação de cumplicidade e imbricação possibilita o conhecimento de que, simultaneamente, se está ao redor delas. Os discursos se referem sempre a dada realidade, podem ser falseados, mas nunca são uma espécie de ficção proposta como se fosse realidade.

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